Muito mais do que de Brasil, o discurso do ex-presidente Lula no Parlamento Europeu falou de um outro mundo possível. Um mundo plural, solidário, cooperativo, humanista e justo.
Falou também de outra Europa possível, capaz de superar, como o fez no passado recente, guerras de ódio e intolerância. Capaz de trabalhar pela paz, pelo meio ambiente livre de exploração humana, capaz de cumprir seus compromissos para superar as desigualdades entre povos e continentes.
Os aplausos intermináveis que recebeu dos eurodeputados foram não apenas a ele, por tudo que viveu e superou, mas pelo que disse.
Com impressionante habilidade de um líder mundial, enalteceu o Parlamento Europeu como um patrimônio da humanidade ao tempo em que distribui puxões de orelha. Recordou que os países ricos não entregaram a contrapartida de 100 bilhões de dólares para os países em desenvolvimento para programas de preservação da natureza e enfrentamento de mudanças climáticas.
Lembrou da crise de 2018 e de que os governos de nações desenvolvidas preferiram investir recursos no salvamento dos bancos ou para estimular guerras contra o terror, citando nominalmente os exemplos de morte e destruição no Afeganistão, na Síria, no Iêmen e no Paquistão.
Um discurso ativo e altivo – como o foi a sua política externa durante os anos em que governou – de um homem que passou por todo tipo de discriminação e perseguição – sociocultural e econômica (pela simplicidade de suas origens), política e judicial (tendo sido o mais destacado preso político dos tempos do lawfare) – e que comparece diante dos líderes europeus com a legitimidade inalcançável da experiência, devolvendo dignidade à tão ultrajada imagem do país no exterior.
O contraste com demais representantes brasileiros que circulavam no mesmo dia e hora em outros países foi gritante.
Enquanto Lula e o Brasil brilhavam em Bruxelas, o Presidente da Câmara Arthur Lira, convidado a participar de um Fórum Jurídico em Lisboa, defendeu a necessidade de importar fórmulas constitucionais comparadas para resolver os problemas políticos do país e, claro, defendeu o semipresidencialismo.
Como se fosse um problema de forma e não de conteúdo, e como se ele próprio não tivesse nada a ver com isso, Arthur Lira e representantes do poder legislativo e judiciário brasileiro entabularam discursos escorregadios e bem pouco honestos a respeito dos problemas jurídicos do país.
Enquanto Lula e o Brasil eram recebidos por líderes destacados, como o vice-chanceler e ministro das Finanças da Alemanha, Olaf Scholz, Bolsonaro discursava mentiras aos investidores em Dubai repetindo o que falou na ONU, que a Amazônia é úmida e não pega fogo.
Para combater tamanha infâmia política, devemos nos contaminar do otimismo indignado de Lula. Devemos ler e reler um discurso feito para nós, feito para recordar que o povo brasileiro não quer que a destruição continue, que o Brasil tem jeito, que o fundamental é mesmo o amor e que é impossível ser feliz sozinho.
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